Conimbriga...que bela que está
Já não ía há muito tempo visitar as ruínas da cidade romana de Conímbriga. Confesso que já sentia algumas saudades. Confesso, também, que não ía a contar com uma série de alterações que entretanto se verificaram naquele espaço. Efectivamente, várias obras de restauro e conservação foram ali processadas.Entre várias saliento a reconstrução que se está a fazer do Forum e da sua colunata, a cobertura da casa dos repuxos, a reconstrução das termas da zona Sul, entre outros melhoramentos.Estão de facto mais atraentes as ruínas de Conímbriga...Ainda bem...É sinal que em Portugal as coisas a pouco e pouco estão a ficar diferentes e, neste caso, para melhor... Como se lembrarão, Conímbriga era um povoado antigo e que foi conquistado pelos romanos por volta do ano 136 da era cristã, durante a expedição de Décimo Junio Bruto, mas foi só no reinado de Augusto que a cidade se remodelou à maneira romana. Desta remodelação romana salienta-se as muralhas, com as suas diversas portas. Mais tarde já no século IV depois de Cristo os conimbricences construiram novas muralhas, mais imponentes.
Passeando pela cidade pode observar-se a beleza da Casa dos Repuxos, assim apelidada aquando da sua escavação pelos repuxos que ela possuía no seu peristilo. Trata-se de uma extraordinária obra de arquitectura.è uma casa muito grande, pois existe ainda uma parte que não foi ainda escavada. Para além dos repuxos pode-se admirar os riquíssimos mosaicos que pavimentam os vários compartimentos. estamos perante o maior conjunto de mosaicos figurados de Portugal. Os repuxos foram restaurados e hoje encontram-se a funcionar como na época. Para tal, nos dias de hoje basta que se coloque uma simples moeda de 50 céntimos numa pequene máquina que aciona durante um minuto e meio o mecanismo aquático. Uma excelente ideia que obvia as despesas de mantuenção do sistema e da água que entretanto se vai gastando. Outra casa muito interessante é a casa atribuída a Cantaber (um senhor rico do século V). Construida no final do século I d. C. teve ocupação até ao abandono da cidade aquando das invasões suevas. Esta habitação é enorme constituindo, inclusivamente, uma das poucas residências urbanas do Império Romano com tamanha dimensão. Possuia termas próprias e de requintada elaboração.
Como se sabe os romanos reuniam-se na cidade numa praça denominada Forum. Este espaço era fundamental nas cidades romanas, à semelhança das cidades gregas com a àgora. Era no Fórum onde tudo acontecia em termos sociais, políticos, administrativos, etc. Era no fundo o coração da cidade. A parte mais evidente do Forum de Conimbriga é a sua praça central rodeada por um pórtico de que se conservam algumas bases de colunas. A norte ficava o templo, cujo frontão media 18 metros de altura. Este templo era dedicado ao culto dos imperadores entretanto divinizados. Está também em restauro e no Museu monográfico pode ver-se uma maquete (que é aqui reproduzida também).
Muito mais haveria para contar desta cidade, porém o melhor é mesmo os meus amigos leitores darem lá um salto e verem com os seus próprios olhos toda a beleza, os melhoramentos, a conservação, o asseio daquele monumento. Pena que não se passe o mesmo com todos os monumentos e ruínas de Portugal. Pena que não se passe o mesmo com as ruínas da nossa "citanea da raposeira". Bem sei que a imponência e a importância arquitetctónica e tudo mais se não assemelha um pouco que seja com Conímbriga. Sei, pois participei nas escavações da referida Citânea de Mangualde e estudei com carácter de obrigatoriedade académica as ruínas de Conímbriga. Porém, é funfamental que se preserve, diria mesmo que é obrigatório que se preserve e conserve o que nos foi legado, ainda que de inferior dimensão. Custa-me ver o abandono a que as ruinas da "citanea da Raposeira" estão votadas. Custa-me que não haja um plano de preservação e consequente divulgação, capaz, em termos turísticos. Enfim, custa-me. Custa-me ainda mais pensar que nada disto custa a quem pode e deve fazer alguma coisa. A Câmara municipal de Mangualde deverá seriamente empenhar-se em olhar para aquele monumento e pensar em fazer alguma coisa por ele...antes que seja tarde.
