Poço Moirão - Abrunhosa-a-Velha
Em terras de Abrunhosa-a-velha, junto ao Rio Mondego, ou Munda, como era denominado na Antiguidade, existe um topónimo que é o “Poço Moirão”.
O nome deste lugar já por si é sugestivo da provável existência de vestígios de ocupação antiga pelo homem.
Foi precisamente pela pesquisa toponímica que, em 1985, eu e o meu amigo Luís Filipe Gomes aí nos deslocámos, enquanto estudantes de Arqueologia na Universidade de Coimbra.
Com efeito, a cerca de 100 metros do rio e a sensivelmente 150 metros das ruínas de uma ponte antiga, encontrámos, espalhados numa área não muito extensa, alguns restos cerâmicos de construção, habitualmente atribuídos à época romana: tegulae, imbreces (telhas planas e de cano) e tijoleiras. Assim, e á primeira vista este terreno acusa uma ocupação da época romana porém, alguns autores como João Inês Vaz, alegam que este tipo de materiais deverá ter perdurado desde ocupação romana e por toda a alta Idade Média.
Não estamos, desta forma, e baseados apenas nos escassos vestígios encontrados, em condições de categoricamente afirmar se estaremos na presença de ruínas de algum casal ou de alguma estalagem de muda que prestaria apoio à travessia do rio de origem romana ou medieval.
É, contudo, acertada a convicção de se tratar de um sítio arqueológico remoto.
Fará sentido supor-se que ali terá havido uma estrutura arquitectónica de apoio á via romana que vinha de Guimarães de Tavares e que, provavelmente, passando por Vila Mendo de Tavares seguiria para a outra margem? Seria aqui o ponto de transposição do rio Mondego?
Convém lembrar que neste local existem restos de uma ponte antiga, cujas pedras apresentam um corte bem definido e aparelhado. Perante estes vestígios não é possível, de igual modo, concluir em que época foi construída essa ponte. Muito provavelmente é posterior à época romana.
Na mesma área e inseridas no mesmo contexto dos vestígios cerâmicos atrás referidos encontrámos duas sepulturas escavadas na rocha. A sua tipologia é oval e destinavam-se ambas a crianças, pois medem apenas cerca de 80 cm.
Declaradamente as sepulturas apontam o Poço Moirão, ou Barca Velha, como também se denomina este lugar, para uma cronologia da Idade Média Alta.
Mas, como tantas vezes acontece surgem mais questões que conclusões, e aqui vão elas:
1- Poço Moirão – Romano ou Medieval?
2- Poço Moirão – Origem romana e com continuidade ininterrupta pela idade Média?
3- Poço Moirão – Local de apoio à ponte que remotamente faria a travessia do rio “Munda”?
É isto meus amigos leitores que torna fascinante o mundo da Arqueologia…Nem sempre as respostas finais são tão romanticamente sedutoras quanto as questões que inicialmente nos desafiam à pesquisa.
Moita da Oliveira-ALMEIDINHA
Em Almeidinha existe um prédio ou, como é mais habitual dizer-se, um terreno denominado de Moita da Oliveira. Em 1985, aquando da “batida de campo” levada a efeito por mim e pelo meu amigo e colega Dr. Luís Filipe Coutinho, demos conta de duas sepulturas escavadas na rocha, bem como à superfície dessa mesma terra se podiam encontrar muitos e diversos fragmentos de materiais cerâmicos romanos. Naturalmente os mais habituais: tegulae (telha plana), imbrices (telhas em cano), dolia (vasos de grandes dimensões), bem como alguma cerâmica fina e comum. Apareceu também um fragmento de “terra sigillata” do tipo hispânico. Como já referi em artigos anteriores este tipo de cerâmica era uma baixela fina, de ir à mesa, e apenas presente na casa de famílias abastadas.
Quando visitámos o local fomos lá conduzidos pela pesquisa bibliográfica: Leite de Vasconcelos estivera lá na véspera do Natal de 1894. Já nessa época o ilustre Mestre encontrara restos idênticos aos que nós recolhêramos. Também Leite de Vasconcelos dera conta das sepulturas escavadas na rocha, só que naquela época ele registou quatro, enquanto que a nossa batida, como acima já referi, apenas referiu duas delas.
Numa centena de anos duas destas sepulturas foram destruídas…
A última vez que lá fui foi precisamente nessa batida de 1984-85. Não voltei lá entretanto. Espero e faço votos para que nestes 23 anos ainda se lá mantenham as duas sepulturas…
José Leite de Vasconcelos, pelo manancial de elementos recolhidos concluiu existir ali um povoado ou uma villa romana. De igual forma nós tirámos o mesmo tipo de conclusão, dado que a cerca de 200 metros do local passa uma via romana que ainda conserva alguns troços lajeados.
Acrescento eu hoje que, indubitavelmente, estaremos na presença de ruínas romanas (sejam elas quais forem, pois só escavações nos poderiam elucidar sobre o tipo) e que provavelmente aquele sítio teve uma ocupação humana permanente, isto é, sem interrupção conforme provam as sepulturas ali presentes e que são da Alta Idade Média (Séculos VII-XI).
Assim, Almeidinha tem as suas prováveis origens na época romana, com continuidade de ocupação humana pelos séculos fora até aos dias de hoje.
Não estou certo a 100% que assim seja, pois apenas me baseio na junção e interpretação de alguns vestígios arqueológicos, mas o facto de também a via romana por ali passar funcionou, tal como hoje funcionam as nossas vias de comunicação, como aglutinadora e fixadoras das populações aos locais.