Os Romanos trouxeram para a Península a sua cultura, tradições, rituais, e os "lusitanos" tomaram como suas estas práticas. Tal como hoje é vulgar fazer-se promessas e pagar promessas aos santos, naquela altura o pensamento era idêntico. Na Freixiosa, Concelho de Mangualde, (Conventus Scallabitanus) temos uma Ara Votiva, que se encontra a servir de pedestal (em posição invertida) a uma cruz de madeira, na Igreja Paroquial daquela aldeia. Moldurada nas quatro faces. Capitel de 20 cm de altura, com molduração de tipo gola encurtada com ranhura. A base (20 cm) é do tipo gola reversa, também com ranhura.Não sabemos se teria existido fóculo. O texto foi completamente avivado, em tempo posterior, seguindo apenas alguns dos vestígios de letras ainda existentes à altura, de forma que resultou quase incompreensível, com a agravante de ser muito difícil garantir, agora, qual o primitivo texto. Reza assim:
[CROVG/AE . NILAI/GVI] (?) . CLE/MENTI/NVS . CEI (filius) / A (nimo) . L (ibens) . V (otum) . S (olvit)
A Crouga Nilaico (?). Clementino, filho de Ceio, cumpriu o voto de livre vontade.
Esta interpretação é hipotética, obviamente, e baseia-se na presunção de que o regravador foi minimamente fiel. Porém, conforme nos informou Maria de Lurdes Albertos, se considerarmos Crougae (ou até mesmo só Crouga, com dativo em -a), poderemos ter aqui uma variante do teónimo Crougeai Magareiaicoi Petrauioi, que lê no texto lusitano de Lamas de Moledo, sendo Nilaigui um epíteto em dativo pré-celtico (terminação - ui).
Aliás, o mesmo radical se poderá detectar numa outra divindade indígena cuja ara, procedente de Orense, a identifica como Crougin Toudadigoe, dividindo-se as opiniões dos linguistas acerca do étimo indoeuropeu que lhe deu origem. O dedicante , um indígena, parece ter um nome de origem latina - Clementinus - que não é frequente na onomástica peninsular, não tendo aparecido, ainda, em contexto indígena. Do eventual Patronímico, Ceius, também não temos paralelos peninsulares, uma vez que o cocábulo Ceio atestado no castro de Três Rios, perto de Viseu, é de interpretação duvidosa. A fórmula votiva final é corrente.
Os meus amigos leitores e comentaristas passem por Freixiosa e dêm uma espretadela...vão gostar, estou certo.