NEOARQUEO
26 fevereiro 2006
  Inscrição Romana da Freixiosa
Os Romanos trouxeram para a Península a sua cultura, tradições, rituais, e os "lusitanos" tomaram como suas estas práticas. Tal como hoje é vulgar fazer-se promessas e pagar promessas aos santos, naquela altura o pensamento era idêntico. Na Freixiosa, Concelho de Mangualde, (Conventus Scallabitanus) temos uma Ara Votiva, que se encontra a servir de pedestal (em posição invertida) a uma cruz de madeira, na Igreja Paroquial daquela aldeia. Moldurada nas quatro faces. Capitel de 20 cm de altura, com molduração de tipo gola encurtada com ranhura. A base (20 cm) é do tipo gola reversa, também com ranhura.Não sabemos se teria existido fóculo. O texto foi completamente avivado, em tempo posterior, seguindo apenas alguns dos vestígios de letras ainda existentes à altura, de forma que resultou quase incompreensível, com a agravante de ser muito difícil garantir, agora, qual o primitivo texto. Reza assim:
[CROVG/AE . NILAI/GVI] (?) . CLE/MENTI/NVS . CEI (filius) / A (nimo) . L (ibens) . V (otum) . S (olvit)
A Crouga Nilaico (?). Clementino, filho de Ceio, cumpriu o voto de livre vontade.
Esta interpretação é hipotética, obviamente, e baseia-se na presunção de que o regravador foi minimamente fiel. Porém, conforme nos informou Maria de Lurdes Albertos, se considerarmos Crougae (ou até mesmo só Crouga, com dativo em -a), poderemos ter aqui uma variante do teónimo Crougeai Magareiaicoi Petrauioi, que lê no texto lusitano de Lamas de Moledo, sendo Nilaigui um epíteto em dativo pré-celtico (terminação - ui).
Aliás, o mesmo radical se poderá detectar numa outra divindade indígena cuja ara, procedente de Orense, a identifica como Crougin Toudadigoe, dividindo-se as opiniões dos linguistas acerca do étimo indoeuropeu que lhe deu origem. O dedicante , um indígena, parece ter um nome de origem latina - Clementinus - que não é frequente na onomástica peninsular, não tendo aparecido, ainda, em contexto indígena. Do eventual Patronímico, Ceius, também não temos paralelos peninsulares, uma vez que o cocábulo Ceio atestado no castro de Três Rios, perto de Viseu, é de interpretação duvidosa. A fórmula votiva final é corrente.
Os meus amigos leitores e comentaristas passem por Freixiosa e dêm uma espretadela...vão gostar, estou certo.
 
<$Comentários$>:
Não conhecia. Vou aceitar o desafio e numa das minhas próximas deslocações ao local vou querer ver esta relíquia.
 
Iniciei este ano os meus conhecimentos em epigrafia, disciplina que estou a achar muito interessante, por isso fiquei contente com o texto postado, até porque me ajudou a pensar em alguns aspectos, como o suporte, que ainda não foram falados nas aulas. Quanto ao texto em si os meus poucos conhecimentos não me permitem tentar interpretação alguma. Só uma nota: é engraçado como a Igreja Católica usa tão frequentemente simbolos pagãos misturados com a sua própria ideologia e como essa simbiose de crenças dá depois origem a um culto muito particular como o vivido nas regiões mais rurais.
 
Vou aceitar o conselho, temos tantas coisas ao nosso lado que desconhecemos.

Continua, pois aqui! Aprende-se.


Forte abraço.
 
caros
aqui vai a minha leitura:
CROUG/AE NILAI/CVI CLE/MENTI/NVS CEI(i filius)/A(nimo) L(ibens) V(otum) S(olvit).
A Crouga dos Nilaicos, Clementino, filho de Ceio de animo leve o voto cumpriu.
Prefiro pensar que o Nilaicui é um genitivo e refere-se a um povo, cuja localização desconheço.
Outra achega que dou é que já não está ao contrário, pois a quando das últimas obras inverteram a ara e colocaram o crucifixo noutra extremidade!!!
Quanto ao nome do pai (patronimico) existe um paralelo perto de Barcelona na forma feminina e como cognome.
Para a Kriska que está a dar os primeiros passos em Epigrafia, sugiro o meu trabalho de epigrafia que fiz na licenciatura e que está no meu sítio na Internet. No sitio do IPA (www.ipa.min-cultura.pt) encontra o trabalho do dr. armando redentor que é muito bom.
 
António, gostei de saber que perto da minha terra existem desafios interessantes para explorar.
A explicação/interpretação do Pedro Pina Nóbrega vem dar uma luz interessante sobre a Ara Votiva. Para mim, independentemente do que dizem os historiadores, concluo que a nossa gente apesar de influenciadas pelos romanos sempre que teve oportunidade deixou uma reste-a da sua cultura no que ia recebendo de bom grado (como agora) de Roma (Bruxelas, agora deixamos menos nosso)

Um abraço
 
Os Romanos deveriam ter afundado isto, mas foram parolos…
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Freixiosa e a inscrição Romana - Uma boa proposta de passeio.
É interessante a explicação.
É importante notar que, muitos anos a esta parte os votos, mesmo os de livre vontade, ficavam para sempre inscritos numa pedra, dificilmente eram destruídos. Hoje … bem hoje temos gente que diz sim eu prometo ser cumpridor dos meus deveres, respeitar e servir o povo que me elegeu. Depois como que por magia, tudo se apaga na memória desses dolosos, armados em “gente” séria.

Abraços
 
Cumprimentos do Algarve pela leitura e interpretação.

http://imprompto.blogspot.com
 
Os Romanos para além de nos deixarem a língua também nos deixaram ums bons quebra-abeças.
Um Abraço
 
Caro Tavares:
aqui me encontro de novo a consulta-lo e a ilustrar-me atravez do seu blog. Quanto a lapide creio que ficaria muito melhor num futuro museu de Mangualde do que servir para a base de uma qualquer cruz, em qualquer igreja.
 
Provavelmente será esse o deu destino, mais cedo ou mais tarde. Então, uma vez no States temos novamente homem nos Blogs. Um abraço.
 
Caros Amigos,
Querem conhecer melhor esta modesta e acolhedora aldeia?
Convido-os entäo a tomar o tempo necessário para descobrir todas as belezas desta aldeia em:
www.freixiosa.com
Um abraço,
Rui Pinto
 
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