Eis a Orca dos Padroes...
Bem, e a pedido de vários amigos leitores apresento hoje a Orca dos Padrões, na Freguesia de Cunha Baixa. Trata-se de um monumento megalítico que foi recuperado em finais da década de 90, pela ArqueoHoje dos meus colegas e amigos Luís Filipe Gomes e Pedro Sobral de Carvalho. Esta recuperação teve o apoio da C M Mangualde e dos organismos habitualmente envolvidos: IPPAR. Este Dolmen já nos finais do século XIX tinha sido referenciado e explorado por Leite de Vasconcellos. O espólio recolhido na altura foi duas lâminas de sílex, um machado, um seixo rolado e alguns pequenos fragmentos de cerâmica. Mais tarde, Irisalva Moita refere-o e desenha uma nova planta. Mais recentemente, outros autores se debruçaram sobre os materiais exumados da anta e teorizaram sobre ele. O interessante deste Dolmen é, para além do mais, o facto de se inserir num contexto arqueológico megalítico, isto é, na mesma micro-região do Mondego, onde aparecem outros: Orca da Cunha Baixa; Orca dos Braçais (Outeiro de Espinho), Orca de Gandufe (Gandufe), Orca de Alcafache, anta da Senhora do Castelo, provavelmente no sítio denominado Tojal d'anta, e não muito longe dos Padrões a Orca dos Amiais, em Vila Ruiva, Nelas. Outros monumentos megalíticos no actual concelho de Nelas populavam. A Orca dos Padrões é, tipologicamente, um monumento de câmara poligonal alongada, tendencialmente rectangular, de nove esteios e corredor médio, bem diferenciado. Analisando os materiais pressupõe-se uma primeira fase de ocupação funerária na transição do IV para o III milénio a.C.. Terá tido também reutilizações posteriores, nomeadamente durante o Calcolítico Final/Bronze inicial. Em 1985, quando eu e Luís Filipe Gomes fazíamos o Levantamento Arqueológico do Concelho de Mangualde vimo-nos e desejámo-nos para detectar este dólmen. Quando numa das várias batidas de campo por fim o localizámos a alegria foi tanta que nos abraçámos um ao outro pulando como crianças. Aliás, eu na altura fumava e nessa manifestação de alegria queimei-me num dedo duma forma deveras intensa. Mas valeu a pena, tal como valeu bem a pena a recuperação deste Dolmen. A título de curiosidade: a Orca dos Padrões pertence administrativamente à freguesia de Cunha Baixa, mas fica nas imediações da aldeia de Vila Nova de Espinho. Quem quiser visitar aproveite, fica junto a uma das vinhas da Quinta dos Carvalhais, da Sogrape.