Castro Bom Sucesso (continuação)

Na realidade, os diversos achados à superfície e sem contexto estratigráfico, resultantes do revolvimento das terras e também dos achados e explorações de Leite de Vasconcelos nos finais do século XIX e inícios do século passado, bem como dos relatos do Dr. José Coelho, anunciam que este Castro teve ocupação no Período do Bronze Final: dois machados de talão, em bronze e que hoje se encontram no Museu Nacional de Grão Vasco. Apareceram também frgamentos de carâmica com decoração do tipo de Baiões / Santa Luzia, tipo Cepillo, paredes brunidas, bordos denteados, taças carenadas, pesos e outro material.
No lado SSO existe uma estrutura amuralhada constituida por pedras pequenas e médias que tinha por objectivo a defesa de uma plataforma onde aperecem apenas vestígios desta época.
Mas, é do período posterior, denominado de Ferro, e do período Romano, e que se estende pela parte mais alta do monte, a ocupação mais relevante desta continuidade de povomante neste local. Aqui surgiu um espólio baseado fundamentalmente em cerâmica de construção, cerâmica comun, parte de uma lucerna decorada ( pequena candeia romana que, com azeite, servia para iluminar), sigillata hispânica ( cerâmica de ir à mesa, mas para ocasiões especiais, equivalente às nossa baixelas de porcelana, por exemplo). Antes da ocupação Romana é de referir que as casas de habitação deste castro eram as típicas da Cultura Castreja ou circulares ou rectangulares. Leite de Vasconcelos refere a existência dos dois tipos de plantas e que ocupavam uma vasta área do monte. Aliás este mesmo autor refere a existência de cerca de 80 a 100 casas de planta rectangular que, pela disposição, formavam ruas.
Tal como os outros castros da Peninsula Ibérica também este foi romanizado, aliás os diversos materiais tipicamente romanos provam isso mesmo, bem como as técnicas de construção das casas ou a adopção de novos materias de construção. Por exemplo, o colmo ou outros materias vegetais que preferencialmente eram utilizados como telhado das casas foram gradual e consistentemente substituidos pelas telhas cerâmicas romanas.
Importante referir que os machados de talão e de aselhas são uma especialidade Ibérica, do chamado Bronze Atlantico. Autores há que apresentam o machado de talão uniface como sendo tipicamente "português", sobretudo da zona centro, enquanto que o tipo de talão e duas aselhas é hispanico. Ora no castro de Bom Sucesso surgiram os dois tipos. Este tema poderá vir a ser tratado mais adiante.
Publico o desenho de carlos C Gomes sobre os machados do castro de Bom Sucesso.
Castro de Bom Sucesso - Chãs de Tavares

Nunca me detive muito a falar de Chãs de Tavares, é verdade. Não há qualquer razão que não apenas a casual escolha dos sítios sobre que falar e escrever.
Mas hoje, e durante alguns posts vou dedicar-me a esta vetusta e nobre terra do chamado “Alto Concelho”. E começo por referir que a Freguesia de Chãs de Tavares é constituída por 9 povoações e por cerca de 20 Quintas, se não me falham a memória e as fontes de investigação. Estas povoações até meados do séc. XIX faziam parte do Concelho de Tavares, cuja sede era precisamente a aldeia de Chãs de Tavares.
Na Idade Média teve foral concedido ainda eram estas terras pertença do Reino de Leão. Foi justamente o Conde D. Henrique e a Condessa D. Teresa quem o outorgaram no ano de 1114.
Mais tarde, em 31 de Dezembro de 1853 o Concelho foi extinto e o seu território foi anexado ao Concelho de Mangualde. Aliás, é nesta altura que o Concelho de Mangualde se vê largamente ampliado, pois recebeu também as freguesias de São João da Fresta, Travanca de Tavares, Várzea de Tavares e Abrunhosa-a-velha, que deixara de ser concelho.
Quanto à ocupação mais remota das terras de Chãs de Tavares sem dúvida que o vestígio mais importante é o Castro do Bom Sucesso.
Este Castro, inserido num período cronológico-cultural que podemos genericamente apelidar de lusitano-romano, situa-se no cimo do monte com o nome já referido, com uma altitude de 756 metros, e a cerca de 1 km a nordeste da povoação. Actualmente o monte encontra-se coberto de afloramentos graníticos, zonas de matagal e pinhal.
O castro está totalmente destruído, porém ainda são visíveis, na sua parte mais alta, restos de antigas casas (as que em 1984-5 vimos eram todas de planta rectangular). À superfície não encontrámos qualquer tipo de espólio. Posteriormente, em 1989, com a abertura de um estradão, grande parte do solo fora revolvido dando origem a inúmeros achados arqueológicos: centenas de fragmentos cerâmicos, pesos, contas de colar, escória, etc.).
Estes achados permitem concluir que o Castro teve várias fases de ocupação humana, ao longo dos tempos.
Essa análise fica para o próximo post.