Necrópole das Quelhadas
Hoje, vou deter-me um pouco sobre a Necrópole de Quelhadas. Trata-se de um núcleo de sepulturas escavadas na rocha, da Idade Média Alta mas, como já temos vindo a ver, a datação destes sarcófagos é bastante imprecisa quanto ao ano, ou melhor quanto ao século a que na realidade pertencem. Quem tem acompanhado os meus posts neste espaço sobre esta matéria, ou quem tem lido as minhas publicações sobre o mesmo assunto tem vindo a verificar que as datações deste tipo de monumentos é difícil, sendo, no entanto, aceitável, por razões cientifícas quer provenientes de escavações quer de outras, que há uma grande divisão cronológica para estes sepulcros. Segundo Alberto del Castillo, e que até hoje, apesar de várias argumentações pontuais em contraditório, aceita-se mais ou menos pacificamente que as sepulturas escavadas na rocha iniciam-se no século VI-VII e vão até ao século XI-XII. Por volta do século IX é quando se dá, segundo o mesmo autor, a grande transformação em termos tipológicos: de banheira passaram a ter forma antropomórfica. Esta é a grande teoria, acompanhada de nuances, incertezas, palpites, teorias mais ou menos rebuscadas, etc.
Assim, em 1985, por altura do Levantamento Arqueológico de Mangualde, eu e o Dr Luís Filipe Coutinho, referenciámos uma necrópole no sítio das Quelhadas, na Freguesia de Santiago de Cassurrães, logo à entrada da povoação de Aldeia Nova.
Este núcleo situa-se numa encosta virada a Sul onde os afloramentos graníticos e àreas vastas de terreno inculto alternam com terras férteis vocacionadas para as actividades agro-pastoris.
Bem lá ao fundo passa calmamente a ribeira de Marialva.
Não é dificil dar-se com o sítio: basta que se entre na Aldeia Nova e junto à Capela tome o trilho que desce até à dita ribeira, passando pelas Quelhadas.
Nesta estação detectámos 6 sepulturas escavadas na rocha. Actualmente não sei se todas existem, pois desde a minha última publicação sobre estes monumentos que não mais lá voltei. Todas elas apresentavam a mesma tipologia: antropomórficas, com cantos arredondados, quer nos ombros quer nos pés. Devo, no entanto, referir que a maneira como na altura (1985) as medidas e o levantamento de desenho e planta das sepulturas se fazia era de uma forma bastante mais arcaica que aquela que hoje necessariamente faço. Se, porventura, o tempo e a disponibilidae me deixarem lá voltar e fazer um novo levantamento tipológico das mesmas, com toda a certeza que vou encontrar pormenores que na altura não valorizámos e que podem levar a algumas considerações algo diversas. Porém, de uma forma geral e, sem preocupações em demasia de rigor técnico-arqueológico, interessa aqui revelar que existe este núcleo, e que importa a sua salvaguarda e protecção. Em tempos idos (2 a 3 anos) dei conta da importância de preservar este tipo de monumentos numa determinada Freguesia. Apresentei um projecto, que aliás foi publicado na versão on-line de uma reputadíssima publicação da especialidade, na revista "Al-Madan". A Freguesia em questão não valorizou o meu projecto. Eu, na minha condição de trabalhador assalariado e de arqueólogo nas horas vagas (poucas) procedi à limpeza e re-estudo das sepulturas dessa freguesia e passei os limites da mesma Freguesia e fiz o mesmo trabalho numa outra. Tudo custeado por mim, o que me pareceu mal, pois não gozei de umas férias mais pródigas...mas, a paixão pelas nossas coisas, pelo nosso património assim me obrigou. Não estou nada arrependido, antes pelo contrário; mal visto fica quem não tem a mínima sensibilidade por estas questões e tem responsabilidades governativas das freguesias.
O apelo que faço é junto da Freguesia de Santiago de Cassurrães: dêm lá uma saltada e vejam o estado da Necrópole, e depois se tudo estiver bem, muito bem, se não contactem-me, mesmo que eu não possa fazer o trabalho arranjo quem o faça. Mas desta vez não será a custas minhas. Desculpem lá.
Ah, importa ainda referir que a meio da estação se encontrava um enorme monólito, rectangular, com sinais de nele ter sido iniciada uma escavação para um sepulcro, ou para outra finalidade. O interesse deste monólito é fundamental, pois a destinar-se a uma sepultura, indica-nos uma das maneiras possíveis que os artífices tinham para as construir. Mais informações sobre esta estação arqueológica pode ser encontrada no meu livro "Sepulturas Escavadas na Rocha no Concelho de Mangualde" que se encontra à venda no posto de Turismo da Câmara Municipal de Mangualde.