Por terras de Pinheiro de Tavares
Na Freguesia de São João da Fresta fica a aldeia de Pinheiro de Tavares. O seu território ocupa uma porção da parte norte do concelho de Mangualde. Já fez parte, outrora, do concelho de Tavares. Esta aldeia possui vários testemunhos de ocupação humana muito antigos. Na altura da batida de campo para o Levantamento Arqueológico do Concelho de Mangualde, em 1985, não detectámos vestígios que nos fizessem recuar para tempos pré-históricos. Não quer isto dizer que não os haja, apenas não encontrámos. Porém, os vestígios de ocupação romana são vários e abundantes.
Vou fundamentalmente falar de duas estelas funerárias, epigrafadas. Tal como hoje, a função destes blocos rectangulares, em granito, era serem enterrados na vertical, junto á cabeceira da sepultura, deixando as letras a descoberto para que ficasse assinalado o nome do defunto e de quem mandou erguer o monumento. Antes e agora, nenhuma diferença…
Uma das estelas reza assim:
D(is) M(anibus) S(acrum)/FLAVINA /FLAVI. F(ília). / I(?) DI(?) […] AII / ALVQVI. F(iliae). / M(atri).S(uae).A(nnorum). LX(sexaginta) / F(aciendum) C(uravit)
Traduzindo quer dizer o seguinte: Consagrada aos Deuses Manes. Flavina, filha de Flavo, mandou fazer a sua mãe, …, filha de Alúquio, de sessenta anos.
A outra lápide, que na altura da nossa descoberta estava a servir de ombreira à porta de acesso de um pátio, reza assim:
[…] RVS.TRITIII F(ilius) / ANNORUM / XXX(triginta) [IIT]SVN/VA.MIIARI F(ília) A/NNORUM LXX(septuaginta) / CAINO (sic). TRITIII (filius)/[FRA]TRI.IIT.MA/[TRI] F(aciendum). C(uravit).
(Aqui jazem) …? filho de Tritéu, de trinta anos, e Súnua, filha de Mearo, de setenta anos. Cenão, filho de Tritéu, mandou fazer ao irmão e à mãe.
É possível fazer-se várias leituras com as inscrições acima transcritas. É, portanto, possível chegar-se a outras conclusões. Porém, não é de todo importante, para este artigo, ter-se um elevado grau de preciosismo. Deixemos isso para as revistas da especialidade e para leitores que se dediquem profissionalmente à epigrafia latina.
Por ora interessa apenas referir que em Pinheiro de Tavares estas duas estelas, bem como outros vestígios tipicamente da era romana, atestam a presença da ocupação romana nestas paragens. São peças do património Mangualdense.
Cronologicamente estas estelas datam do século II d. C. Ora, nesta época, remota, as pessoas que aqui morreram aqui viveram previamente, tal como os seus familiares e vizinhos. Onde estão os vestígios das habitações, do quotidiano daquelas gente por terras De Pinheiro de Tavares?
É precisamente nos terrenos denominados por Quintal que poderá estar o povoado, o habitat daqueles “nossos” antepassados. Na realidade, foi à superfície destes terrenos que deparámos com uma substancial quantidade de tegulae (telha plana), Imbrex (telha de meio cano), fragmentos de Dolia (potes de guarda de cereais e outros bens), cerâmica comum, bem como uma base de coluna, em granito, uma pedra cilíndrica que cremos ser um pedaço de fuste de uma coluna. Por tudo isto existem condições para afirmar da antiguidade de Pinheiro de Tavares.