Abrunhosa do Mato (através dos Tempos)
Em resposta à minha amiga e conterrânea Beta Ferreira:
Questionava-me ela se a Quinta dos Currais não seria enterior à "fundação" da Abrunhosa do Mato. Preparei, à luz dos meus conhecimentos, a seguinte resposta:
Em termos de antiguidade podemos apontar ocupação humana no actual território que hoje faz parte da Abrunosa do Mato desde os tempo pré-históricos.
Sem poder utilizar o rigor científico que seria necessário para a datação em absoluto deste nível de ocupação, tenho apenas que me cingir à datação relativa e a partir de materiais descontextualizados.
Ora bem, nos finais da década do 80 do século XX, o sr. José Fernando Almeida Abrantes (Jeff) procedeu a obras nos baixos de uma casa que todos nós na Abrunhosa conhecemos por "Cantinho". Na remoção de entulhos e no aprofundar dos terrenos para os alicereces da casa, foram encontrados alguns materiais líticos, polídos, que eu atribui ao perído pré-histótrico. Conatactei o meu colega Luís Filipe Coutinho e ambos procedemos à visita ao local e já nada se pôde encontrar que estratigraficamente pudesse esclarecer alguma coisa. Sabemos, todavia que tais materiais não estavam associados a quaisquer outros vestígios.
Os materiais, na posse do descobridor são: 1 machado de pedra polida, em anfibolito com forma sub-rectangualr, faces plano-Côncava e convexa, bordos e eixos convergentes convexos, talão truncado, fio de gume convexo assimétrico e perfil convexo simétrico, secção rectangular, polimento intenso junto ao gume. Este artefacto, inicialmete foi-me apresentado pelo Jeff como proveniente de terrenos do Pessegueiro, tendo vindo à superfície com uma "cavadela de enchada", na transição da Abrunhosa do Mato e da Cunha Baixa. Porém, mais tarde, o Jeff refere-me que saiu do tal sítio da Abrunhos do Mato, e que a primeira informação não era correcta.
Mas outros objectos ali forma encontrados:
2-Lâmina de Enxada (?) com dois gumes, em granito e cujas características descritivas me escuso neste local a explicitar.
3-Fragmento de instrumento de pedra polida, em anfibolito.
4-Percutor em quartito com vestígios de percussão.
5-Percutor em granito com vestígios de percussão.
6-Percutor em quartzito com vestígios de percussão e um orifício que o travessa. Este percutors tinham funçao de martelos ou trituradores.
7-Objecto não definido, em granito.
9-Objecto em quartzito, forma cilíndrica e secção oval. Não sei se terá vestígios de uso humano.
10-Objecto bem polido, em anfibolito, que não apresenta vestígios de uso humano.
11-Objecto em granito, forma cilindrica, em maus estado de conservação, tendo desaparecido grande parte do seu polimento.
Bem, resta dizer que estes materiais foram posteriormenet mandados analisar pelo Dr Luís Manuel Fernandes Simões do Museu Minerológico e Geológico da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Importa referir que os materiais em granito, exceptuando uma das peças, são de granito equigranular fino de duas micas, comum na região de Cunha Baixa e Abrunhosa do Mato.
O meu colega Luís Filipe Gomes, adiantou, numa sua publicação, uma interpretação histórica para os artefactos, dizendo que quanto às enxós, machados e percutores não existem dúvidas quanto à sua funcionalidade, mas não podendo afirmar o mesmo para os objectos cilíndricos polidos, pois não apresentam qualquer vestígio de uso, nem qualquer gume que os tornassem úteis à vida das pessoas. Considera, assim, que poderão ser objectos votivos. Almagro Gorbea, numa publicação de 1973, refere a existência de elementos, denominados por "Ídolos Bétilos", simples, sem decoraçãoe que foram encontrados em monumentos megalíticos do Sudeste da Península Ibérica (Região de Almeria e da Estrenadura Portuguesa). Eram objectos sagrados dedicados ao culto de divindades, cujo significado é difícil de definir.
Bem, existem algumas semelhanças entre estes objectos e os de Abrunhosa do Mato, conforme a interpretação de Luís Filipe Gomes e Pedro Sobral.
Estes aqrueólogos da nossa praça colocam a hipótes de este tipo de espólio poretencer a um monumento funerário desaparecido ou a um eventual habitat pré-histórico.
Avançando no tempo temos a romanização da Abrunhosa do Mato.
Efectivamente, no lugar de Oliveirinhas (junto aos Carregais e Lameiras)em 1983 descobri vestígios de ocupação romana. Muita cerâmica de cobertura (telhas) típicas dos romanos, cerâmica comun e mesmo um pedaço de Terra Sigilata (cerâmica de ir á mesa, equiparada à nossa actual porcelana), um pedaço de mó romana, uma soleira de porta em granito,e um artefacto em bronze. estas descobertas foram depois vistas e fotogarfadas por mim e pelo Alexandre Rodrigues, e registadas com a consequente visita do LFG aquando do nosso Levantamento Arqueológico do Concelho.
Bem, esta estação atesta a romanidade do território actual de Abrunhosa do Mato.
Não muito longe, na tapada do portinho, existem duas cabeceiras de sepultura, que em estudo realizado por mim as atribuo à idade média, pese embora a sua tipologia não encaixe com perfeição na tipologia conhecida para a época. Estas cabeceiras de sepultura medievais estão junto ao caminho que apresenta um lageado, que não podendo garantir a sua romanidade, pode ter sido originado na Idade Mèdia. Temos outros elementos arqueológicos que atestam a medievalidade do território de Abrunhosa do Mato: Carvalha Gorda. Aqui encontra-se uma sepultura escavada na rocha, a qual se encontra estudada e devidamente publicada em revistas da especialidade e nos meus livros a isso dedicados.
Juntando ao Património Arqueológico as fontes históricas temos a referência de Abrunhosa do Mato nas Inquirições de 1258 (Século XIII) onde vem citado o nome da localidade "Brunosa" e das terras que aqui existiam, que davam colecta e foram testadas ao Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão, por Donnus Guterri e Donna Maria. Falta saber, pois o documento não refere, se este senhor e esta senhora eram naturais e viventes na nossa aldeia. É provável que sim.
Daí para cá não tenho mais elementos nem de origem arqueológica ou arquitectónica que nos fale da nossa aldeia. Está todo um trabalho para ser feito, mas para o qual já iniciei há bastante tempo atrás os trabalho de recolha de informação. Mas, como calculam, é um trabalho moroso e não lhe pego diaraiamente, pois outros valores mais altos se alevantam, como diria Camões.
Quanto aos Currais, pois bem, em nenhuma parte dos documentos históricos até agora consultados há uma referência explícita e, nos mais recentes (das Finanças), nada serve para apontar da antiguidade maior ou menor desse lugar relativamenta à Abrunhosa do Mato.
Resta-me para tal, e já foram realizadas as primeiras démarches, visitar o Laranjal, pois numa fotografia aérea que o Alexandre me enviou nota-se uma configuração algo estranha dentro daquela propriedade.
Pese embora os vestígios arqueológicos (se houver) e de paisagens antigas na àrea dos Currais fique fora dos trabalhos de georeferenciação para o projecto de Estudo de Impacte Ambiental da Hidroelectrica (pois eta área não ficará submersa), eu farei essa prospecção em paralelo. Quando e se houver notícias, cá estarei para as dar.
Beta, sei que fui longo na resposta mas esta serviu também para que os Abrunhosenses cá do Burgo e os outros de quem nunca nos esquecemos (os nossos emigrantes e os viventes pelas Lisboas e Coimbras) pudeseem ter uma visão mais real do que é a Abrunhosa do Mato e donde vem...