Alminhas - A Saga da Preservação
As alminhas são pequenos monumentos de cariz religioso. São também uma das mais originais expressões da arte popular portuguesa. As Alminhas são constituídas, invariavelmente, pelo retábulo e pelo oratório. È no retábulo onde figura a representação do Purgatório. Essa representação é feita através de pintura ou de painel de azulejos. Daí deriva o nome com que o povo as baptizou.
Situadas à beira dos caminhos, nas encruzilhadas, abundam no Norte e Centro, podendo encontrar-se também no Sul do País. Em termos artísticos as pinturas e/ou os azulejos são extremamente simples e até naif. O Purgatório é representado por uma grande fogueira expurgatória e, envolvidos nas chamas, pelos pecadores que, contorcidos, erguem as mãos ao alto, suplicando clemência. A intervenção misericordiosa dos Céus é feita pela representação de diversas figuras divinas ( Jesus Cristo Crucificado, a Virgem Maria, o Espírito Santo em forma de Pomba, entre outros) que intercedem em auxílio dos pecadores e vão retirando do suplício as almas entretanto purificadas. Um aspecto interessante que importa referir é que certos retábulos mostram cabeças de reis coroadas, frades, bispos com a mitra, etc, Depreende-se que até os poderosos não escapavam à justiça divina. Claro que as crianças não aparecem, pois a sua alma é pura…
Desconhece-se a origem destes monumentos, porém já os Gregos, Os Celtas, Os Romanos e outros povos da antiguidade erguiam monumentos à beira dos caminhos e nas encruzilhadas dedicados aos seus deuses protectores dos viajantes, por exemplo os Lares Compitales e os Lares Viales dos Romanos. A Igreja primitiva, na sua lógica de expansão do cristianismo, foi substituindo estes monumentos pagãos por cruzes de madeira e cruzeiros de pedra. Esta situação perdura por toda a Idade Média. Mas as Alminhas só aparecem bastante mais tarde. Não podemos esquecer que o dogma Purgatório não aparece, não faz parte da Arte Medieval. Só com o Concílio de Trento, em 1563, a Igreja reafirma dogmaticamente a existência do Purgatório. Assim, as Alminhas prendem-se inicialmente com este dogma, com o fascínio ancestral por determinados locais e ritos mágico-religiosos (encruzilhadas). Só a partir do século XVI é que em Portugal começam a surgir as primeiras representações do Purgatório. Assim, e devido à dificuldade de datar a maior parte destes documentos, só se pode aceitar a sua disseminação a partir do Século XVIII e XIX.
Apresento-vos a alminha do Alto da Cruz, situada numa encruzilhada que basicamente divide as terras de Cunha Baixa e as de Abrunhosa do Mato. O seu estado de conservação é lamentável. Urge o seu restauro. Pela minha parte cá continuarei disponível para ajudar as entidades locais na sua preservação.