Uma Poldra em Abrunhosa do Mato
Com este artigo pretendo, uma vez mais trazer à luz dos nossos dias aspectos aos quais pouca ou nenhuma importância conferimos. Desde sempre que o Homem para vencer as diversas dificuldades do dia a dia se viu obrigado a moldar a Natureza de acordo com as suas necessidades. Assim, desde os abrigos de pastor, os caminhos vicinais, as palheiras, as pontes, etc, tudo teve que construir. Fê-lo sem a ajuda dos grandes e insubstituíveis cálculos de engenharia, sem os quais hoje nada se faz. Fê-lo apenas utilizando a prática, a memória da sabedoria acumulada durante milénios. Hoje trago-vos, caros leitores e amigos uma poldra. Fica em terras de Abrunhosa do Mato. Permite que, a pé, se transponha o ribeiro, se passe para a outra margem. Esta construção é já, conjuntamente com outras que ainda se podem observar pelo país fora, um obra arqueológica. E é-o, não pelo facto de ser extraordinariamente antiga, mas sobretudo porque já não se constroem, por testemunhar uma mentalidade, uma cultura, um passado. Trata-se de um património que deve ser preservado. Devemos garantir que se legue aos vindouros todo um passado que faz parte da nossa matriz cultural. Este tipo de tecnologia e técnica de construção é arcaico, porém isso não constitui motivo para que se destrua. Na realidade, na zona da Regada, aqui na Abrunhosa do Mato, uma poldra bem mais antiga que esta da foto, a avaliar pelo talhe e patine das pedras, foi recentemente destruida para dar lugar a uma ponte de betão. Esta nova ponte permite que os tractores agrícolas passem para a outra margem e executem as diversas tarefas do amanho da terra. Pergunto apenas se não havia trajecto alternativo? Pergunto apenas se se chegou pelo menos a pensar nisso? Porque sou a favor do progresso, apelo daqui, uma vez mais, não destruam, por favor...sejam criativos...