NEOARQUEO
21 maio 2006
  Uma Poldra em Abrunhosa do Mato

Com este artigo pretendo, uma vez mais trazer à luz dos nossos dias aspectos aos quais pouca ou nenhuma importância conferimos. Desde sempre que o Homem para vencer as diversas dificuldades do dia a dia se viu obrigado a moldar a Natureza de acordo com as suas necessidades. Assim, desde os abrigos de pastor, os caminhos vicinais, as palheiras, as pontes, etc, tudo teve que construir. Fê-lo sem a ajuda dos grandes e insubstituíveis cálculos de engenharia, sem os quais hoje nada se faz. Fê-lo apenas utilizando a prática, a memória da sabedoria acumulada durante milénios. Hoje trago-vos, caros leitores e amigos uma poldra. Fica em terras de Abrunhosa do Mato. Permite que, a pé, se transponha o ribeiro, se passe para a outra margem. Esta construção é já, conjuntamente com outras que ainda se podem observar pelo país fora, um obra arqueológica. E é-o, não pelo facto de ser extraordinariamente antiga, mas sobretudo porque já não se constroem, por testemunhar uma mentalidade, uma cultura, um passado. Trata-se de um património que deve ser preservado. Devemos garantir que se legue aos vindouros todo um passado que faz parte da nossa matriz cultural. Este tipo de tecnologia e técnica de construção é arcaico, porém isso não constitui motivo para que se destrua. Na realidade, na zona da Regada, aqui na Abrunhosa do Mato, uma poldra bem mais antiga que esta da foto, a avaliar pelo talhe e patine das pedras, foi recentemente destruida para dar lugar a uma ponte de betão. Esta nova ponte permite que os tractores agrícolas passem para a outra margem e executem as diversas tarefas do amanho da terra. Pergunto apenas se não havia trajecto alternativo? Pergunto apenas se se chegou pelo menos a pensar nisso? Porque sou a favor do progresso, apelo daqui, uma vez mais, não destruam, por favor...sejam criativos...
 
<$Comentários$>:
Essa poldra é o sítio ideal para levar os mais novos e os forasteiros aos gambozinos. Já por lá fiz pescarias às agulhetas no ribeiro. Já lá pesquei com um alfinete dobrado e uma linha de alinhavar presa a uma haste de videira (vide). Será que ainda há por lá peixes? E atravessá-lo de bicicleta? Dava uma adrenalina…
Não passo por lá à bastante tempo e tenho andado para a ir fotografar. Mas ainda bem que já o fizestes. grrr... :-)
Espero que sobreviva aos tempos modernos.
Obrigado por mostrares a poldra das Fervanças (ou será que esse local tem outro nome? Já não me recordo).
Um abraço
 
Há que informar e mudar mentalidades para que obras como essas, não sejam destruídas. O nosso povo é inteligente, e decerto que compreende que essas obras fazem parte integrante de uma época e do modo de vida dos nossos antepassados.
Um povo só é verdadeiramemte civilizado, quando for capaz de evoluir sem destruír as suas raízes culturais,sociais e económicas.
 
Olha aqui tão perto e não conheço! Mais um cantinho a descobrir na próxima caminhada.
 
Como amante da natureza e das coisas antigas, aqui venho subscrever o teu último parágrafo!
Um abraço TSFM (hehehe, agora já sei)
 
Caso paradigmático de dúvida: isso já é património arqueológico?
 
Na região também conheço alguns conjuntos de poldras, mas ao contrário destas que estão deitadas, estas por aqui estáo ao alto
 
Bota: a semântica tem muito poder...Muitas vezes temos que ser persuasivos, agindo proactivamente, sob pena de, agarrados em demasia ao que tecnicamente pode ou não pode ser, vermos irremediavelmente o património a ser destruido. Doa a quem doer, cá estarei sempre em defesa da memória colectiva.
 
Joaquim Baptista, tenho conhecimento fotográfico de exemplares como os que descreve, porém não conheço nenhum "in vivo".
 
penso que umas poldras que existiam em darei, antes da barragem de fagilde eram ao alto
 
Pode ver as poldras de Idanha-a-Velha no Rei Wamba
 
Pela minha sub-regiao tambem havia varias dessas poldras, umas que eu conheci serviam para dar passagem para o Santuario da Senhora dos Milagres, que eu tenho referido no meu blog, antes da construcao da ponte.
Mas muito pior que a destruicao das poldras, foi a recente construcao de uma Avenida em Fornos de Algodres, sobre uma calcada romana!!!
 
Caro TSFM,
Eu sei disso.
Felizmente não me perco muito entre a semântica e a defesa do Património. enquanto penso se uma coisa é ou não valor arqueológico, defendo-a sempre.
 
Chamado à atenção, pelo Al Cardoso, realmente não deixa de ser curioso que, quase ao mesmo tempo, as poldras são comentadas, em post, pelo menos em três blogs; Neoarqueo; o Por terras do rei Wamba; Notícias dos Forcalhos.

Sem dúvida que deve ser um património a preservar e são vários os motivos a isso validar: a antiguidade, a beleza paisagística, a raridade, a etnografia, o uso para fins turisticos/desportivos,...
Também não compreendo que com a construção de uma ponte seja obrigatório desmantelar as poldras. Não seria mais lógico manter as poldras e construir a ponte ao lado? Provavelmente até mais barato seria. Parece que há prazer em destruir!!!

Não concordo que não se façam mais pontões, porque na realidade ainda se fazem, embora agora praticamente só em jardins. Inclusivamente no Parque das Nações lá está um. Só os materiais são diferentes.
 
Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]





<< Página inicial
Espaço para reflexões sobre Património Cultural, Arqueologia, Historia e outras ciências sociais. Gestão e Programação do Património Cultural. Não é permitida a reprodução total ou parcial de qualquer conteúdo deste blog sem o prévio consentimento do webmaster.

Arquivo
setembro 2005 / outubro 2005 / novembro 2005 / dezembro 2005 / janeiro 2006 / fevereiro 2006 / março 2006 / abril 2006 / maio 2006 / junho 2006 / julho 2006 / agosto 2006 / setembro 2006 / outubro 2006 / novembro 2006 / dezembro 2006 / janeiro 2007 / fevereiro 2007 / março 2007 / abril 2007 / maio 2007 / junho 2007 / julho 2007 / setembro 2007 / outubro 2007 / novembro 2007 / fevereiro 2008 / abril 2008 / maio 2008 / setembro 2008 / outubro 2008 / novembro 2008 / dezembro 2008 / março 2009 / abril 2009 / maio 2009 / junho 2009 / julho 2009 / agosto 2009 / setembro 2009 / outubro 2009 / dezembro 2009 / janeiro 2010 / abril 2010 / junho 2010 / setembro 2010 / novembro 2010 / janeiro 2011 / fevereiro 2011 / março 2011 / abril 2011 / maio 2011 / junho 2011 / julho 2011 / agosto 2011 / setembro 2011 / outubro 2011 / novembro 2011 / dezembro 2011 / janeiro 2012 / abril 2012 / fevereiro 2013 / junho 2013 / abril 2016 /




Site Meter

  • Trio Só Falta a Mãe
  • Memórias de Histórias
  • arte-aberta
  • Rede de Artistas do Arte-Aberta
  • Museu Nacional de Arqueologia
  • Abrunhosa do Mato
  • CRDA
  • Instituto Arqueologia
  • Terreiro
  • O Observatório
  • Domusofia
  • O Mocho
  • ACAB
  • O Grande Livro das Cabras
  • Teoria da conspiração e o dia dia do cidadão
  • O meu cantinho
  • Escola da Abrunhosa
  • O Fornense
  • Um Blog sobre Algodres
  • d'Algodres:história,património e não só!
  • Roda de Pedra
  • Por terras do Rei Wamba
  • Pensar Mangualde
  • BlueShell
  • Olhando da Ribeira
  • Arca da Velha
  • Aqui d'algodres
  • n-assuntos
  • Universidade Sénior Mangualde
  • Rotary Club de Mangualde
  • galeriaaberta
  • Francisco Urbano
  • LONGROIVA
  • Kazuzabar