Anta da Cunha Baixa...o ex-libris

Megalitismo é o termo-conceito que diz respeito a construções feitas com grandes pedras. Do grego mega = grande e lithos = pedra. Termo aplicado à Pré-História: fenómeno universal que ocorreu em tempos históricos diversos, relacionado com os monumentos de carácter funerário e/ou religioso.
Na Europa acontece fundamentalmente no Neolítico. Investigações arqueológicas referem que persistiu até à Idade do Bronze, tendo ao nível geográfico uma larga expansão. Os Dólmens ou Antas, Orcas, são os monumentos que caracterizam o megalitismo.
Tipologicamente assiste-se a uma diversidade de construções: as mais simples constituídas apenas pela câmara (esteios verticalmente colocados e cobertos por uma laje) e as mais complexas que evidenciam uma entrada feita através de um corredor de acesso, de dimensões diversas e distintas das câmaras.
Os Dólmens eram cobertos na sua totalidade por terra e pedras soltas formando uma “mama” saliente na paisagem. Daí a designação popular de mamoa.
Dado o espólio que arrecadavam no seu interior eram, além de sepulturas, locais de culto, de religião. No início são sepulcros individuais, para mais tarde serem colectivos. O ritual era a inumação e mais tarde a incineração, guardando-se as cinzas em pequenos vasos cerâmicos. Junto aos corpos colocavam-se objectos de uso diário: lâminas de sílex, pontas de seta, machados de pedra polida; objectos de adorno pessoal: contas de colar, pendentes; objectos votivos: ídolos-placa; peças cerâmicas, e por fim peças em metal. Tudo isto faz do homem pré e proto-histórico um forte crente numa vida para além da morte.
A Anta da Cunha Baixa é um exemplar de enterramento colectivo com corredor longo. Não apresenta mamoa, pois terá sido destruída. Inicialmente estudado por Leite de Vasconcelos, foi em 1987 que Raquel Vilaça e Domingos Cruz encetaram os trabalhos de restauro desta sepultura classificada como Monumento Nacional já desde 1910. Naqueles trabalhos participou, entre outros arqueólogos o autor deste Blog.
As investigações puseram a nu esteios pintados e gravados e os materiais exumados apontam para uma fase tardia de megalitismo na região. A construção data de cerca de 5000 anos e teve uma utilização até tarde, uma vez que os últimos materiais aí depositados são da Idade do Bronze.
Vale a pena visitar este magnífico exemplar agora protegido e que sobreviveu milhares de anos para ser considerado o ex-libris do Concelho de Mangualde.
Picota...uma réplica exemplar...

Eis uma extraordinária réplica de uma picota, ou picanço...enfim, tem muitos nomes, consoante a zona geográfica. Segunda reza a História tal engenho de buscar àgua foi introduzido nas terras lusas pelos àrabes.
Mas...estamos perante uma réplica! não é original! Nem tão pouco se trata de uma reconstrução ou restauro de uma picota existente! Não! Aqui, nesta aldeia das encostas do Caramulo, a Junta de Freguesia local, em colaboração com a Câmara Municipal local meteram mãos à obra e preservaram, deram a conhecer aos jovens, às crianças, a todos os que demandam aquelas paragens um pouco da História Local, um pouco da tecnologia antiga...e construiram uma picota que exibem, orgulhosamente, num dos largos da aldeia.
É com este tipo de atitudes que nos tornamos mais genuínos. É mais um pedaço da nossa memória colectiva que fica guardado.
Mas...não posso deixar de lamentar que noutras localidades, noutras freguesias não se pense assim...
Em inícios de 1998, eu próprio tomei a liberdade de me dirigir por carta a um dos membros da Junta de Freguesia de Cunha Baixa dando conta da possibilidade de reconstrução de uma picota da qual restava apenas o pilar em granito. Tal elemento do engenho encontrava-se e encontra-se na rua, junto à monumental Fonte Arnós (Arenosa) em Abrunhosa do Mato, e por isso afigurava-se-me interessante que se procedesse a tal recuperação.
Com esta atitude estava-se a levar a cabo uma acção de protecção do pouco património cultural que a aldeia possui. Permitia-se, de igual forma, que as crianças se apercebessem do valor das coisas passadas. Era assim que eu pensava...é assim que continuo a pensar...
Já lá vão 8 anos e até hoje a picota não foi reconstruída...
Necrópole Medieval de Póvoa de Cervães

No lugar denominado por Cumareiro, logo ao lado da aldeia de Póvoa de Cervães, no concelho de Mangualde, implantada num morro onde o granito impera, protegida pelo matagal existem 5 sepulturas escavadas na rocha. Acede-se ao local através do “Caminho Velho” que é ladeado pela Igreja Paroquial e pelo Cemitério. Passado este recinto corta-se à esquerda. Sensivelmente a 300 metros lá estão os monumentos distribuídos pela vertente sul do monte.
Quando o primeiro estudo foi realizado, pelo autor do Blog e por Luís Gomes, então a realizarem o Levantamento Arqueológico do Concelho de Mangualde, no ano já longínquo de 1985, as sepulturas não evidenciavam qualquer tipo de espólio. Morfológica e tipologicamente são todas antropomórficas, diferenciadas apenas quanto á tipologia das cabeceiras, ombros e pés.
São todas de adulto. Um dos túmulos sobressai relativamente aos outros por ter sido aberto num afloramento rochoso mais elevado. Junto dele encontramos seis pequenas covinhas.
Estamos perante mais um exemplo do nosso rico património histórico-cultural. A sua defesa, preservação e divulgação turística é fundamental. È desta forma que a memória de um povo não se apaga com o tempo.