NEOARQUEO
A Anta do Penedo do Com...Penalva do Castelo


Por algumas vezes já saí do concelho de Mangualde para partilhar com os meus amigos leitores e comentaristas as maravilhas patrimoniais que se encontram por esta região. Porém, hoje é a primeira vez que “viajo” até terras do vizinho concelho de Penalva do Castelo. E faço-o para falar um pouco da Anta do Penedo do Com, que fica em Esmolfe, aldeia deste concelho. Este dólmen foi recuperado por iniciativa da Câmara Municipal daquele concelho, em finais da década de 90. Em boa hora o fez, veja-se a este propósito, e compare-se, as fotos que publico. Este sepulcro Neolítico está datado de cerca do ano 3000 a.C. Os Dólmens, termo de origem bretã que significa mesa (dol) de pedra (men) são monumentos funerários bastante frequentes em Portugal, particularmente na Beira Alta, Norte e Alentejo.
Os Dólmens, quanto à sua tipologia de construção e planta, assumem características próprias, podendo falar-se em regionalismos. Assim, na Beira Alta o característico é de câmara poligonal e corredor de acesso, este é um exemplo. É também comum nesta região haver pinturas e/ou gravações nos esteios destes sepulcros.
A Anta do Penedo do Com estava deveras destruída e para a sua reconstrução foi necessário por vezes a utilização de pedras criteriosamente seleccionadas nas redondezas. O monumento teve duas fases distintas de ocupação, conforme é atestado pelos materiais exumados, correspondendo a mais recente a um momento adiantado do Calcolítico. Se em Penalva do Castelo não foi identificado mais nenhum monumento megalítico, eles estão presentes nos concelhos limítrofes: Cortiço e Matança (Fornos de Algodres), Casa da Orca e Orca dos Padrões, ambos em Cunha Baixa (Mangualde) e vários outros exemplares por terras de vila Nova de Paiva e Aguiar da Beira.
O acesso a este sítio faz-se através de um estradão com início entre o 2º e o 3º Km da Estrada Municipal 570, que dirigindo-se para a “tapada do Monte” passa pela “Quinta da Ribeira Oronho e Ribeira de Sezures.
Uma Poldra em Abrunhosa do Mato

Com este artigo pretendo, uma vez mais trazer à luz dos nossos dias aspectos aos quais pouca ou nenhuma importância conferimos. Desde sempre que o Homem para vencer as diversas dificuldades do dia a dia se viu obrigado a moldar a Natureza de acordo com as suas necessidades. Assim, desde os abrigos de pastor, os caminhos vicinais, as palheiras, as pontes, etc, tudo teve que construir. Fê-lo sem a ajuda dos grandes e insubstituíveis cálculos de engenharia, sem os quais hoje nada se faz. Fê-lo apenas utilizando a prática, a memória da sabedoria acumulada durante milénios. Hoje trago-vos, caros leitores e amigos uma poldra. Fica em terras de Abrunhosa do Mato. Permite que, a pé, se transponha o ribeiro, se passe para a outra margem. Esta construção é já, conjuntamente com outras que ainda se podem observar pelo país fora, um obra arqueológica. E é-o, não pelo facto de ser extraordinariamente antiga, mas sobretudo porque já não se constroem, por testemunhar uma mentalidade, uma cultura, um passado. Trata-se de um património que deve ser preservado. Devemos garantir que se legue aos vindouros todo um passado que faz parte da nossa matriz cultural. Este tipo de tecnologia e técnica de construção é arcaico, porém isso não constitui motivo para que se destrua. Na realidade, na zona da Regada, aqui na Abrunhosa do Mato, uma poldra bem mais antiga que esta da foto, a avaliar pelo talhe e patine das pedras, foi recentemente destruida para dar lugar a uma ponte de betão. Esta nova ponte permite que os tractores agrícolas passem para a outra margem e executem as diversas tarefas do amanho da terra. Pergunto apenas se não havia trajecto alternativo? Pergunto apenas se se chegou pelo menos a pensar nisso? Porque sou a favor do progresso, apelo daqui, uma vez mais, não destruam, por favor...sejam criativos...
Abrigos de pastor...
Abrigos de pastor: existem por este país fora. Na Beira Alta são feitos com pequenas pedras de granito, naturalmente a rocha mais abundante e característica desta região. Nas zonas onde o Xisto marca presença é neste material que são feitas. Os pastores, para se resguardarem das agruras do tempo: chuva, frio, neve, granizo, vão construindo aqui e eli estes abrigos. Dentro deles podem recolher-se também nos momentos mais calmos da pastoreio, ali podem comer muitas vezes o magro farnel que levaram de casa. Pastor, cães, saco do farnel, um ou outro borrego ou cordeirito mais frágil têm lugar naqueles casebres, engenhosamente fabricados somente com a habilidade destes homens. Estes abrigos, que também servem os propósitos dos agricultores, podem assumir formas e tamanhos diversos. Frequentemente são pequenos, cumprindo apenas com a finalidade com que foram projectados e construidos.Deixo-vos estes exemplares existentes na região de Pinhel, Guarda. São um importante marco da cultura rural do nosso povo. Urge que se preservem. 
Alminhas, de novo...

Já escrevi sobre as Alminhas, bem nos começos do NeoArqueo. Venho de novo com este tema, que é caro a alguns amigos. De facto, graças aos trabalhos de levantamento destes monumentos de religiosidade popular, levados a cabo por alguns elementos da direcção da Associação Cultural de Santo Amaro de Azurara, na Freguesia de Mangualde, é possível, hoje, termos uma ideia aproximada de quantos por aqui existem e o seu estado de conservação. Muitos deles são autênticas obras de arte de cantaria, dada a extrema beleza e exuberância de motivos decorativos. Outros são bem mais simples, pequenas preciosidades de cantaria singela, colocados numa ou noutra encruzilhada de um qualquer caminho velho, como que esquecidos e votados ao abandono.
Se a intenção das alminhas era convidar o comum mortal a deter-se um pouco e a orar pelos que já partiram desta vida, e que por mal dos seus pecados se encontravam ainda no purgatório, cumpre-nos a nós, agora, zelar para que estes exemplares se mantenham nos sítios originais, devidamente preservados.
As Juntas de Freguesia, muitas vezes os principais responsáveis pelo património que é de todos, levam a efeito acções de preservaçao destes monumentos. Faço aqui um apelo a que quando o quizerem fazer que se rodeiem, que peçam ajuda a arqueólogos ou historiadores. O risco de não o fazerem é por vezes o de danificar, sem intenção, mas irremediavelmente, alguns pormenores destes monumentos. A título de exemplo, refira-se que durante uma determi

nada época era moda as alminhas serem pintadas de vermelho. Limpá-las com jactos de areia, como eu já tive notícia, destrói essa camada de tinta, e desvirtua a originalidade do monumento.
Já agora, um apelo aos que julgam estar a preservar, como se vê no exemplo da foto de baixo: não façam isto, pelo amor de Deus...
EX-VOTO de Abrunhosa do Mato

A religiosidade popular é riquíssima nos testemunhos que nos lega. Já desde a Antiguidade que o Homem, prisioneiro de desgraças, doenças e outras situações desesperantes recorre ao divino, em busca de auxílio, de ajuda, de salvação. Efectivamente, o homem, quando colhido pelo desespero recorre ao seu deus predilecto e clama a obtenção de uma graça capaz de resolver aquele problema; em troca, e como forma de pagamento ao deus pela graça obtida, oferece o ex-voto. Os romanos mandavam construir as aras, pequenos altares em pedra, granito ou mármore, consoante o material da região, e aos diversos deuses as dedicavam , cumprindo assim o pagamento da promessa. É velha de séculos, como se vê, mas que perdura, esta relação interesseira de religião. Ao longo da História vários foram os objectos que personalizaram o ex-voto. Actualmente os ex-votos evoluiram para as figuras de cera que se oferecem às santas e santos da devoção pessoal de cada um.
Em Abrunhosa do Mato, na Capela do Senhor do Calvário está este ex-voto, em madeira. Trata-se de um pequeno quadro com uma pintura e que realça bem a gratidão do cavalheiro ao Stº Cristo do Calvário, que lhe salvou a esposa de uma grave doença. Este quadro é também uma preciosa fonte histórica que nos elucida como o homem do século XVIII trajava em Abrunhosa do Mato, bem como dá notas para uma história do mobiliário, etc. Repare-se que a senhora deitada na cama, doente, aparece representada com brincos e um colar...A roupa da cama é certamente a melhor...Pelas roupas trajadas pelo senhor, estamos perante uma família certamente com algumas posses.
A inscrição no fundo do quadro reza assim:
MILAGRE Q. FES O STº CRISTO DO CALVARIO Á MVLHER DE FRANCISCO HENRIQVES DO LVGAR DA ABVRNHOZA DO MATO; LIVERANDOA DE VMA PRIGOZA QVEIXA. ANNO DE 1783.
Não se sabe quem pintou o quadro. Um artista, provavelmente de Abrunhosa do Mato.